terça-feira, 28 de abril de 2009

43 mil trotes no ano







Quando a sirene num dos Batalhões da Polícia Militar ou do Corpo de Bombeiros toca, os militares se aprontam rapidamente. O alerta significa que alguém corre risco. As viaturas de resgate, não raras as vezes, atravessam sinais vermelhos, sobem em calçadas e, ao chegarem ao local informado, percebem que tudo não passou de um trote. A brincadeira de mau gosto é cada vez mais comum e custa caro aos cofres do governo. De acordo com o Centro de Integrado de Atendimento e Despacho (Ciade), órgão da Secretaria de Segurança Pública, os cerca de 200 funcionários que se revezam em quatro turnos no Ciade atenderam mais de 43 mil falsas ligações do primeiro dia de 2009 até ontem, ou seja, quase 11 mil por mês.


De acordo com o órgão, de cada dez ligações, em média seis são trotes e apenas quatro são ocorrências de fato geradas. O número só não é maior porque os atendentes são treinados para reconhecer quem está disposto a pregar uma peça. Telefonemas sem identificação, pedidos de socorro feitos de orelhões e próximos a escolas, ou ligações anônimas são suficientes para deixar os profissionais desconfiados. "Quando alguém liga para o 190 ou 193, o funcionário preenche uma ficha de atendimento. Nela, existem algumas perguntas, como situação do local ou da suposta vítima. Muitos gaguejam, começam a rir ou não sabem descrever o evento. Essa triagem do evento evita a mobilização de uma equipe de resgate em vão", diz o comandante do Ciade em exercício, tenente-coronel Jetônio Marinho Júnior.


Adolescentes
Boa parte dos trotes para a Polícia Militar e Corpo de Bombeiros parte de telefones públicos próximos ou dentro de escolas. Adolescentes são responsáveis pela maioria das ligações. Para o 190, em geral, os jovens acionam o serviço dizendo que foram vítimas de roubos e de espancamentos. "Uns até fazem voz de choro, como se estivessem agonizando", diz um militar do Ciade.

Em dia de prova as ameaças de bombas também pipocam e o comandante da Ciade alerta que até mesmo das faculdades são originadas chamadas mentirosas. "O aluno não quer fazer prova e liga para a polícia ou bombeiros. Este tipo de trote diminuiu bastante, mas ainda existe", diz o tenente-coronel Júnior.


Quem tem o costume de atrapalhar o serviço da PM e dos Bombeiros é bom ficar atento. O trote é um crime previsto no Código Penal Brasileiro (CPB) e pode dar cadeia e multa para o autor. O artigo 266 do CPB diz que "é crime provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado". A pena é de detenção de um a seis meses ou multa, estipulada pelo juiz.

O chefe da Comunicação social do Corpo de Bombeiros, tenente-coronel Rogério Santos Soares afirma que as viaturas da corporação poderiam durar mais se não fossem as saídas em vão. "Hoje, a vida útil de nossas viaturas é de cinco anos. Se não fosse os trotes, com certeza serviriam à população por mais tempo, além de evitar o desgate físico e mental dos militares", ressalta.

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