sábado, 24 de outubro de 2009

Abandonado em meio ao lixo

Na porta de entrada da sala, duas caixas de iogurte vencidas tomadas pela poeira. No canto, ao lado de um rack, o rato morto havia se transformado em cinzas. Pelo piso do corredor, sangue seco espalhado. Mesmo com as janelas abertas, o fedor era quase que insuportável. À esquerda, um quarto, com colchão sujo de fezes. Na frente da cama, um amontoado de papel higiênico usado cobria o chão. Não se trata de um cenário de filme de terror. Essa casa existe, no Conjunto D da QNO 19 de Ceilândia. E, o pior: nela morava um idoso de 75 anos.

O homem, identificado como José Tiago de Oliveira, não tomava banho há um ano e foi descoberto pelos bombeiros no fim da tarde da última quinta-feira, após um telefonema dos vizinhos, que perceberam que o idoso passava mal após tentarem oferecer comida a ele. “Eu sempre o visito e dou comida. Gritei pelo nome, só que ele não respondeu e, então, comecei a ficar preocupado”, contou o aposentado José de Souza, 70. Ele, a mulher Maria de Aguiar Brandão, 60, e o filho Jainer Brandão, 40, moram três casas acima da de José Tiago.

Quando chegaram, os bombeiros arrombaram a porta dos fundos para poder atender à vítima, que estava nua e usava uma sonda, em razão de um problema na próstata. O idoso foi encaminhado às pressas para o Hospital Regional de Ceilândia (HRC), onde os médicos constataram um quadro de desidratação e infecção urinária. No fim da tarde de ontem, José Tiago foi removido para o Hospital de Base, onde será realizada uma bateria de exames para identificação de outras possíveis doenças.

O caso impressionou até mesmo aos bombeiros. “Verificamos que o ser humano, para chegar àquela situação, tem que estar totalmente abandonado, não somente pela família, mas pelo Estado. Ele estava apodrecendo vivo. É a primeira vez que sinto um mau cheiro daquele”, revelou o soldado Daniel Luiz da Silva, um dos bombeiros que atenderam a ocorrência. Do lado de fora, o mato (que foi cortado apenas ontem pela manhã) já atingia um metro.

De acordo com os vizinhos, José mora na mesma casa há mais de 20 anos. Nunca foi casado e não tem filhos. “Ele é uma pessoa muito difícil. A gente sabe que ele tem dois irmãos, mas fica com raiva quando se toca no assunto família”, disse José de Souza. Na cozinha do idoso, a sujeira também estava espalhada. Panelas apresentavam crostas de restos de alimentos.


FONTE:
www.correioweb.com.br

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