Em grande parte do Distrito Federal, os índices de fumaça no ar, provocada pelas queimadas, estão 100% maiores do que a quantidade aceitável pela Organização Mundial de Saúde.
A fumaça no céu da capital do país não atrapalha somente a visibilidade. A cor cinza na atmosfera significa altos índices de substâncias nocivas à saúde, como o monóxido de carbono, o dióxido de nitrogênio e o enxofre, além de partículas liberadas pelas plantas queimadas, como a dioxina, que se inalada por um longo período e em grande concentração pode levar ao câncer. De acordo com imagens de satélite divulgadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a quantidade de poluentes no ar de Brasília, em muitas áreas, já é o dobro da máxima considerada aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Em todo o DF, os índices de fumaça no ar variam, atualmente, entre 25mg por m² e 40mg por m². Para a OMS, a quantidade tolerável seria de 20mg por m². (Veja arte)
Todo esse vapor que incomoda os brasilienses tem origem nas queimadas que já consumiram 31,9 mil hectares de área verde em 2011. Desde a última quinta-feira, foram 21,9 mil ha. Além disso, o DF ainda recebe a fumaça de outras regiões como Bahia, Mato Grosso, Tocantins, Goiás e Minas Gerais — que só nos primeiros 11 dias de setembro teve 2.845 focos de incêndio. “Nessa época, as queimadas crescem muito em todo o Brasil e o vento desloca a fumaça, que está chegando ao DF”, explicou o pesquisador do grupo de queimadas do Inpe, Fabiano Morelli.
Para o biomédico e subsecretário de Saúde Ambiental do DF, Luiz Maranhão, este ano a população de Brasília está sentindo ainda mais os efeitos causados pela poluição dos incêndios no cerrado. De acordo com Maranhão, a fuligem que se solta na atmosfera com as queimadas são classificadas em três dimensões: as maiores, que não chegam a ultrapassar as narinas, pois ficam retidas nos pelos do nariz; as médias, capazes de chegar aos brônquios, provocando tosse e problemas respiratórios, como enfisema pulmonar, rinite e sinusite; e as menores, que, segundo o subsecretário, são as mais nocivas à saúde e podem causar até mesmo tumores. “Os particulados — nuvens de pó e cinza que vêm envolvendo Brasília desde que os incêndios começaram — são carregados de toxinas. Dependendo do tempo em que a pessoa fique respirando esse ar poluído, pode ocasionar a formação de vários tipos de câncer no corpo humano, pois a partícula, de tão pequena, tem condições de chegar até mesmo aos alvéolos pulmonares e à circulação sanguínea”, alertou.
Pior do que São Paulo
A combinação da poluição dos carros que percorrem o DF e dos incêndios desta época é ainda mais preocupante. “Acredito que, neste período de seca, temos o ar mais poluído do Brasil. Ultrapassando até mesmo o da grande São Paulo”, declarou Luiz Maranhão. Segundo ele, a diferença entre os vapores liberados pela queima de vegetação e pelos veículos está no tipo de combustão. “Enquanto os carros usam gasolina, álcool e diesel, as plantas em chamas liberam vários tipos de materiais orgânicos”, explicou. Para ele, o recorte geográfico da capital do país também agrava os riscos à saúde dos moradores. Aqui, a concentração de oxigênio chega a ser a metade daquela presente em cidades litorâneas do Brasil. “Temos uma umidade baixíssima e estamos 1.200 metros acima do nível do mar. São dois fatores que dificultam a respiração dos brasilienses”, acrescentou o subsecretário de Saúde Ambiental.
Alguns dos problemas enumerados por Maranhão são sentidos pelo pedreiro Raimundo da Silva Ferreira, 35 anos. Morador de uma região que fica a poucos metros de uma das áreas da Floresta Nacional (Flona), ele sofre com a fumaça intensa dos incêndios que já tomaram conta de 85% da área 1, localizada nas proximidades de Taguatinga. “Não consigo nem respirar direito e meus olhos ardem. Desde que começaram as queimadas, eu não paro de tossir. Há 10 anos que moro aqui e nunca vi uma coisa como essa. Fico triste com essa situação”, descreveu o pedreiro.
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